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“EXISTO, LOGO PENSO”, O ERRO DE DESCARTES (SEGUNDO O NEUROCIENTISTA ANTÓNIO DAMÁSIO)

Foto do escritor: Sublime CareSublime Care

Penso, logo existo? Não! Existo (e sinto), logo penso! 😲

No livro “O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano” (1994), António Damásio, neurologista português e referência mundial na área, apresenta conclusões inovadoras sobre o funcionamento do cérebro e as relações mente-corpo e razão-emoção, ao inverter a famosa proposição cartesiana, de "penso, logo existo" para "existo (e sinto), logo penso".


“Erros” de Descartes, segundo o autor:

  • Separação entre mente e corpo. “A mente é fruto do cérebro”, contrapondo o dualismo cartesiano no qual a alma (razão pura) é independente do corpo e das emoções.

  • Método de estudo mecanicista. Damásio defende uma fusão do estudo neurobiológico com a investigação psicológica (neuropsicologia), numa abordagem integrativa das emoções e da razão.

Através da análise sistemática de pacientes com lesões cerebrais e da experimentação neuropsicológica com animais de laboratório, o autor (e a sua esposa Hanna) mostra como as emoções são indispensáveis na génese e expressão do comportamento, e para a racionalidade.


Um dos pacientes, Phineas Gage, teve a parte frontal do cérebro perfurada por uma barra de ferro, mas, espantosamente, sobreviveu.


Depois do acidente, passou a comportar-se de forma diferente e imprevisível, e a revelar uma enorme dificuldade em tomar decisões. Contudo, o seu raciocínio lógico, a sua memória consciente e as suas capacidades linguísticas mantiveram-se inalteradas.


Análises posteriores de pacientes com lesões do córtex frontal demonstravam a mesma incapacidade (de tomar decisões), e uma análise neuropsicológica desses pacientes indicou uma baixa reatividade emocional.


A partir desta observação, e ao contrário do que propõe Descartes e mesmo Kant (que o raciocínio deve ser feito de uma forma pura, dissociada das emoções), Damásio defende que a razão, por si só, não tem a capacidade de avaliar e tomar decisões; é o quadro referencial das nossas emoções que seleciona as opções.


Como o próprio sugere, “o único e verdadeiro Kantiano é um paciente com lesão no córtex pré-frontal.”


Damásio apresenta igualmente uma série de argumentos anátomo-fisiológicos para defender que o nosso raciocínio é feito de sequências ordenadas de imagens, o que também sugere uma íntima relação entre as estruturas cerebrais envolvidas na génese e na expressão das emoções (sistema límbico) e as áreas do cérebro ligadas à tomada de decisões, como o córtex frontal.


Fontes:

- DAMÁSIO, A. (1994). O erro de Descartes - Emoção, Razão e Cérebro Humano. Lisboa: Publicações Europa-América.

- LURIA, A. R. (1976). The working brain - Introduction to neuropsychology. New York: Basic Books.

- GIUGLIANO, C. T. L. G. (1997). A razão das emoções: um ensaio sobre “O erro de Descartes”. Brasília: Estudos de Psicologia.

- BRANDÃO, L. (2016). António Damásio, o neurocientista das emoções. Comunidade cultura e arte.

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